A polícia do Suriname anunciou ter detido 22 suspeitos de participação no ataque a um grupo de 81 garimpeiros brasileiros na noite da última quinta-feira em Albina, na fronteira com a Guiana Francesa. Não foram fornecidos, porém, mais detalhes sobre tais prisões.
Para o embaixador do Brasil no Suriname, José Luiz Machado e Costa, a situação na região do conflito é "tranquilizadora".
Ele visitou a área ontem acompanhado por representantes da diplomacia surinamesa.
Nas palavras de John Jones, porta-voz da polícia, "a vida voltou ao normal por lá". "Temos condições de garantir a segurança em Albina e estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance."
Brasileiros que moram no Suriname e a embaixada disseram que o poder público tem dificuldade para impor a lei no lugar, dominado pelos marrons, como são conhecidos os descendentes de quilombolas.
Na opinião de Jones, entretanto, o governo tem a região sob controle. "Em qualquer parte do mundo existem pessoas violentas", minimizou.
Apesar da violência exibida pelos agressores, o ataque não deixou mortos, de acordo com a embaixada brasileira. Dos 14 feridos contabilizados inicialmente, dez já foram liberados pelo hospital. Quatro continuavam internados, sendo dois em estado grave.
Na Guiana Francesa, o consulado brasileiro localizou nove feridos --levados para a cidade de Saint Laurent du Maroni, que fica do outro lado do rio à beira do qual o garimpo estava instalado--, dentre os quais se encontra a grávida que, na confusão, perdeu o bebê.
Pânico
Ainda muito nervosos, os brasileiros contavam no sábado que colegas estavam desaparecidos e que deveria haver diversos mortos, porém esses temores não se confirmaram. Os relatos davam conta de que, por volta das 22h do último dia 24, de 200 a 300 marrons invadiram o alojamento dos brasileiros em Albina golpeando homens, mulheres e crianças com facões. Também atearam fogo no prédio.
O padre brasileiro José Vergílio, que mora há oito anos no país e dirige a rádio local, ajudou na retirada de 91 brasileiros para Paramaribo. Ele afirma que todas essas pessoas com quem falou dizem que sete garimpeiros foram mortos.
"Tenho só o receio de que as autoridades estejam querendo colocar panos quentes na situação", comentou. "Os corpos devem ter sido eliminados, de um modo ou de outro, podem ter sido jogados no rio." O padre disse ter visto ao menos um corpo na água.
Retorno
Dois funcionários do Ministério das Relações Exteriores que foram enviados do Brasil passaram o domingo visitando hospitais e os hotéis da capital, Paramaribo, nos quais os garimpeiros foram provisoriamente instalados.
Entraram em contato com todos os brasileiros, porém apenas cinco, segundo a assessoria do Itamaraty, decidiram retornar. Eles deixaram o Suriname às 19h (horário de Brasília) em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), com destino a Belém, no Pará.
Na noite de anteontem, em conversa com o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, a ministra interina dos Negócios Estrangeiros do Suriname, Jane Aarland, disse que o governo asseguraria segurança e assistência médica aos brasileiros.
No Cairo, o chanceler Celso Amorim foi cauteloso. "Estamos no processo de entender o que se passou. Temos contado com o apoio das autoridades surinamesas e precisamos ver o que acontece no longo prazo.
Essas situações são complexas," afirmou. Segundo o chanceler, o presidente Lula "está acompanhando pessoalmente" o assunto.
Amorim admitiu que não conhecia o caso específico do Suriname, mas disse que tensões são comuns nessas circunstâncias. "Numa situação em que há comunidades fortes estrangeiras e uma atividade do tipo garimpo, não é a primeira vez que isso acontece", lembrou.
reportagem de DENYSE GODOY, FELIPE SELIGMAN, RANIER BRAGON E JOÃO CARLOS MAGALHÃES
colaborou MARCELO NINIO, do Cairo
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