sábado, 29 de maio de 2010

Prostituição financia garimpos no Suriname

Conflito
Prostituição financia garimpos no Suriname

Publicada em 02/01/2010

O Globo

RIO - Redes de prostituição, formadas por cafetões e mulheres brasileiras, ajudam a financiar os garimpos artesanais do Suriname, emprestando dinheiro para a compra de equipamentos como dragas e bombas de pressão. Esta é um das constatações da geógrafa Maria Célia Nunes Coelho, da UFRJ, após dez anos de pesquisas sobre o tema em Belém. Em entrevista ao GLOBO, ela afirmou que, por terem acesso ao capital e à tecnologia, os garimpeiros brasileiros despertaram a ira dos quilombolas locais.
É uma luta pelo poder. Os quilombolas, muito pobres, não dispõem das mesmas fontes de recursos dos brasileiros e ficam em desvantage.

- É uma luta pelo poder. Os quilombolas, muito pobres, não dispõem das mesmas fontes de recursos dos brasileiros e ficam em desvantagem. Como os brasileiros têm o capital, dominam a atividade - explicou a geógrafa.
Este capital, segundo ela, procede principalmente de cafetões do Pará e também irriga uma rede de tráfico de mulheres para a prostituição na Europa, particularmente a Holanda (país que colonizou o Suriname). Para chegar ao país vizinho, mulheres do Pará e Maranhão precisam se endividar com estes cafetões.
Albina, cidade do Suriname onde ocorreu o ataque de quilombolas a brasileiros no dia 24, está no centro do fenômeno. Com a crise do ouro no Pará e Amapá no anos 1990, garimpeiros brasileiros atravessaram as fronteiras dos países vizinhos (incluindo Venezuela e Guiana) até chegar quase ao litoral do Suriname.
Maria Célia acredita que os garimpeiros atacados no Suriname são veteranos de Serra Pelada (garimpo extinto no Pará), na faixa de 40 e 50 anos, e seus filhos, que cruzaram a fronteira em busca de lugares onde ainda é possível a exploração do ouro de forma artesanal - ouro encontrado no barranco das margens dos rios.
Uma semana depois do ataque sofrido na cidade de Albina, no Suriname, alguns brasileiros já pensam em retomar a rotina de trabalho no garimpo de Sofia . O garimpeiro Enoque Teixeira, por exemplo, fazia planos de voltar ao trabalho dentro de três dias no máximo. Ele foi um dos primeiros a retornar a Albina na tentativa de recuperar parte de seus pertences. Ele fretou um táxi com um amigo e esteve no antigo acampamento de brasileiros, que está sendo vigiado por três seguranças marrons.

Nenhum comentário:

Postar um comentário